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Mãe da semana: Floriza Fernandes – Os muros do silêncio. Até quando?

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Como vocês sabem, o nosso blog reserva um espaço para as mamães especiais, e há alguns anos recebemos o depoimento da Floriza, mãe de uma linda menininha de 6 anos, portadora de Síndrome de Down, que sofreu maus-tratos na escola particular em que estudava. Depois de 2 anos de processo hoje comemoramos a vitória dessa mãe.

Veja o resultado desse caso: https://jornalggn.com.br/noticia/mau-trato-a-crianca-com-sindrome-de-down-1-ano-de-detencao-decide-o-tj-sp 

***

Minha filha tem 6 anos de idade, tem da síndrome de Down e foi aluna de um colégio particular na cidade de Santo André, até o dia 27 de março de 2015.

Este ano já seria o quarto ano da minha filha matriculada nesta escola, entretanto, fui obrigada a transferi-la para um outro colégio, pois soube por meio de uma funcionária, que é auxiliar de classe há oito anos no colégio, que minha filha estava sendo exposta a maus tratos, praticados pela professora atual.

Pelo tempo que a auxiliar trabalha no colégio pode-se verificar tratar-se de uma pessoa competente e honesta.

Ela levou ao conhecimento da direção e coordenação o que estava acontecendo com a minha filha, entretanto a orientação da coordenadora do Ensino Infantil e da Diretora era de que “nada estava acontecendo, tudo não passava de um mal entendido”.

Esta mesma funcionária vendo que nada iria ser feito, me relatou tudo que ela e outros fincionários viam com a minha filha, entretanto, uma semana antes, fato importante de se ressaltar, mais precisamente no dia 18 de março de 2015, uma quarta feira por volta das 18:30 h, pois me lembro bem deste dia por ser dia da missa do colégio e dia do ballet da minha filha.

A professora da minha filha do ano de 2014, veio até mim na porta do colégio, quando eu estava chegando e me questionou sobre o que eu estava achando da nova professora.

Respondi a ela que não tinha reclamações, além do que estávamos no mês de março ainda, mas quis saber o motivo da pergunta pois não me pareceu algo comum.

Então esta professora me relatou que a mãe de uma criança amiguinho de sala da minha filha, havia procurado por ela para saber se haveria a possibilidade de que seu filho trocasse de professora, pois não estava nem um pouco satisfeita com a atual professora.

No final da conversa a professora ainda me veio com a seguinte frase : Floriza, ela não é mãe, entrega nas mãos de Deus e saiba que tem muita gente de olho na sua filha aqui no colégio.

Sabendo dos fatos que me foram relatados no dia 27 de março, imediatamente retirei minha filha do colégio e nem mais um dia ela lá permaneceu, a levei para uma outra escola onde foi recebida com amor, carinho e profissionalismo.

Em seguida contratei um advogado, que na mesma semana foi comigo até o colégio para “colocar a direção a par” da situação absurda e revoltante, então relatei tudo minunciosamente:

1-Que a atual professora maltratava cruelmente minha filha, colocando-a diversas vezes para fora da sala e fechando a porta, o que fazia com que ela ficasse sentadinha no chão do lado de fora;

2-Que as auxiliares de classe que passavam pelo corredor a colocavam para dentro da sala e questionavam a professora sobre o que minha filha estava fazendo do lado de fora, e a resposta era sempre a mesma, que nem havia percebido que minha filha não estava na classe, fato inaceitável pois uma professora tem que saber onde estão cada um de seus alunos no período de aulas, ainda mais grave por se tratar de uma criança de cinco anos.

3-Esta mesma professora, uma jovem de aproximadamente 25 anos, gritava constantemente com minha filha dizendo que não a suportava, o que fazia com que a auxiliar de classe retirasse minha filha da sala, para que a professora se acalmasse.

4-Que esta mesma professora no dia de aula de ballet, não colocava a roupa da dança na minha filha, mas o fazia nas demais meninas do grupo, e por esta razão algumas vezes ela chegava em casa e eu verificava na mochila que nada havia sido mexido, a roupa do ballet continuava exatamente como eu havia mandado, fato este que fez com que a auxiliar de uma outra classe passasse a trocá-la no dia de dança.

5-Em uma determinada ocasião, enviei bilhete para a professora questionando o porque da minha filha não voltar para casa às quartas com a roupa do ballet, já que por ser esta aula de dança a ultilma aula da quarta feira as meninas voltavam para casa com a roupinha rosa.

6-A professora não me respondeu via agenda, meio este de comunicação entre pais e professores, ao invés disso me ligou em casa se desculpando, pois havia esquecido de levar minha filha para a aula de ballet e que era para eu mandar bilhete na agenda todas as quartas lembrando-a da dança, mas ela não se esquecia de levar as outras meninas da mesma sala.

7-Em uma determinada ocasião, os gritos desta professora foram tantos que a auxiliar de classe precisou sair com minha filha da sala, e a professora foi acalmada por todas as outras professoras do mesmo corredor, as quais ouviram tudo.

8-Esta mesma professora chacoalhava minha filha pelo bracinho quando ela saia correndo na hora do lanche, a pegava pelo braço chegando a levantá-la do chão, o que foi visto pela funcionária da limpeza e por todas as outras crianças, mas minha filha nem mesmo chorava pois não cabia dentro dela a relação de maldade com o que estava acontecendo.

Nosso advogado entrou com uma Representação Criminal contra o colégio, e hoje o caso está em fase de Inquerito Policial e estão sendo prestados depoimentos, entretanto o “colégio” como já se era de esperar está usando todos os artifícios para fazer com que o caso não seja divulgado.

Inúmeras reuniões foram feitas no colégio no sentido de que todos os envolvidos fossem orientados a negar qualquer fato, caso contrário seriam demitidos por justa causa e teriam que indenizar a professora, segundo me foi relatado.

Muitos dos funcionários do colégio levaram ao conhecimento da diretora e da coordenadora os maus tratos que presenciaram e que ouviram dizer acontecer contra minha filha, mas esta mesma direção e coordenação os orientou de que tudo não passava de um mal entendido.

Quando estas reuniões se encerravam muitas das funcionárias saiam chorando da sala e nada mais comentavam sobre o caso.

Todos os depoentes negaram os fatos por medo de perder o emprego e por covardia, exatamente com a mesma frase ensaiada e ridícula: NÃO SEI NADA E NÃO VI NADA.

A única que manteve até o final seus relatos foi a funcionária que me contou os fatos, seu depoimento foi contundente, claro e objetivo e por esta razão, hoje esta mulher está sendo humilhada, massacrada, colegas de trabalho foram orientados a não lhe dirigir a palavra, é chamada para reuniões com a direção diariamente com portas fechadas, e a professora foi mantida no colégio até bem pouco tempo, tendo sido afastada após um blog ter divulgado a matéria sobre o caso.

Minha filha saiu do colégio no mês de março, no mês de junho uma outra mãe retirou o filho do colégio pois esta criança também foi vítima de maus tratos por parte da mesma professora.

A informação é de que a professora afastou-se recentemente por problemas “psicológicos”.

Após eu ter compartilhado a matéria que o blog publicou algumas mães vieram até mim, relataram fatos horríveis que aconteciam com seus filhos, entretanto algumas trocaram as crianças de colégio, outras mantém a criança exposta à ridicularização, bullyng, maus tratos…

Vê-se então que o caso da minha filha não é um acontecimento isolado, entretanto o que mais me aterrorizou foi o caso de uma criança de oito anos que mesmo após relatar para a mãe o que acontece com ela no colégio, chegar em casa marcado no bracinho e na perninha, chorar, gritar, bater nesta mãe para não ir para a escola, ela o mantém lá.

Não sei se posso me referir à esta senhora que obriga um filho a ser vítima destas barbáries pelo nome de mãe ?

Não, não posso.

Na verdade não posso compará-la a nada, pois até os animais cuidam melhor dos seus filhotes e não permitem que quem quer que seja os maltrate.

Triste!

Esta sujeira tem que ter fim.

Pouco importa a grandeza do colégio, quantas unidades possui pelo Brasil a fora, quantos anos possui de “tradição” ou o quanto seu nome será abalado com esse escândalo.

Pouco importa se sua direção possui um curriculum extenso e admirável.

Pouco importa se a professora, a diretora, ou a coordenadora possuem amigos que estão indignados com minha conduta.

Pouco me importa se estes amigos não acreditam ou não querem acreditar que algo deste tipo possa ser praticado por um ser humano.

Pouco me importa a opinião de mães que entram em contato comigo dizendo que vão se unir para defender a professora e o colégio.

Pouco me importa se alguns acham que minha filha tem que estar junto apenas de crianças com necessidades especiais, e que não deveria freqüentar uma escola “normal”, mas não possuem coragem de pronunciar este comentário por viverem presos dentro de uma hipocrisia barata onde se dizem a favor da inclusão, desde que não seja na mesma escola dos seus filhos.

Pouco me importa se contrataram o “melhor” advogado, realmente isso nada significa pra mim.

Pouco me importa os “contatos” que quem quer que seja tenha.

Pouco me importa se uma repórter medíocre, amiga particular dos interessados está a todo custo tentando amedrontar quem divulga o caso da minha filha, citando artigos do ECA e imputando a mim cargo de alto escalão do Tribunal de Justiça, motivo pelo qual alega ela eu ter conseguido divulgar o caso da minha filha.

Sendo assim, torna-se gritante e nojento que na concepção desta mal informada só se consegue penalizar alguém que praticou um “crime”, se aquele que está tentando fazê-lo for de alguma maneira”influente”?

Conciliação e Mediação no judiciário ainda é uma prática voluntária, de boa vontade, onde a intenção daquele que abraça esta causa o simples fato de querer ajudar o outro sem visar lucro.

Minha filha está livre deste horror, mas outras crianças não estão.

Envergonhem-se aqueles que pelo simples fato de que seus filhos não foram vítimas de algo parecido com o que aconteceu com minha filha, ficam por aí dizendo bobagens e falando sem ter propriedade no assunto.

Envergonhem-se aquelas mães que sabem dos fatos ocorridos com minha filha, pois seus filhos que freqüentavam a mesma sala que a minha filha, lhes contavam o que viam acontecer e vocês nada fizeram.

Envergonhem-se vocês, que entraram na minha casa, foram recebidos com carinho, comemoraram o aniversário da minha filha juntamente com os seus  filhos  se calaram ante uma crueldade sem fim por serem covardes e hipócritas.

Orem e peçam que nunca uma desgraça como esta recaia sobre o seu lar , e se isso infelizmente acontecer, que haja alguém decente para fazer cessar  tais absurdos, como fez esta funcionária que hoje é condenada, por aqueles que vivem em um mundo pequeno e infeliz.

Tudo que legalmente estiver ao meu alcance eu vou fazer, pois esta luta é minha. Floriza Fernandes

Um Comentário

  1. Já comentei no face mas faço questão de comentar aqui…. não gosto do termo CRIANÇAS ESPECIAIS pois já se parte de uma separação entre crianças e crianças especias…. todas são crianças e, só por isso, são especiais. Uso a expressão – Crianças que precisam de um cuidado especial… Há de se ter pessoas, professores preparados para isso…. a escola tem obrigação de preparar esses profissionais para dar esse cuidado especial… Acrescenta-se que mesmo sendo especial não é excepcional…. não necessita de grandes qualificações ou grandes dispêndios de energia e tempo – talvez um pouco mais de paciência e amor. Paciência e amor, diga-se, deve ser ingrediente essencial a qualquer professor que lide com qualquer criança… Me solidarizo com essa mãe…. não é vingança, nem justiça ( certamente não será feita porque nada fará apagar o que já aconteceu; evitar que novos casos aconteçam, talvez isso se consiga) é o CERTO. E o CERTO é algo inquestionável…. não há argumentos, não há justificativas para o erro.

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